Cabo Ligado Update: 5 —18 de Maio de 2025
Em números
Principais dados na província de Cabo Delgado (5 - 18 de Maio de 2025)
Pelo menos 3 eventos de violência política (2082 no total desde 1 de Outubro de 2017)
Pelo menos 13 fatalidades relatadas de violência política (6007 desde 1 de outubro de 2017)
Pelo menos 2 fatalidades de civis relatadas (2506 desde 1 de Outubro de 2017)
Pelo menos 5 eventos de violência política envolvendo o EIM em Moçambique (1915 desde 1 de Outubro de 2017)
O Estado Islâmico de Moçambique (EIM) actuou desde a província do Niassa, a oeste, até às águas costeiras de Cabo Delgado, a leste, matando pelo menos 16 pessoas. Na província do Niassa, o grupo permaneceu no distrito de Mecula, onde matou três membros das forças de segurança num confronto. No distrito de Muidumbe, em Cabo Delgado, o EIM matou 11 soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), no incidente mais mortífero do ano. Nas águas costeiras ao largo de Mocímboa da Praia, membros do grupo em dois barcos perseguiram uma embarcação russa de investigação marinha numa aparente tentativa de sequestro. A embarcação encontrava-se a operar a cerca de 30 quilómetros da costa.
Resumo da situação
Três mortos numa emboscada insurgente no Niassa
Os insurgentes apoiados pelo Estado Islâmico continuaram a sua campanha na província do Niassa, a medida que mantinham a atividade ofensiva a mais de 250 km de distância, nos distritos de Muidumbe e Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.
No dia 12 de Maio, os insurgentes raptaram pelo menos sete pessoas na aldeia de Macalange, cerca de 20 km a norte da vila sede de Mecula, no Niassa, e exigiram que os habitantes locais cozinhassem para eles. Os sete reféns foram posteriormente libertados. Segundo uma fonte, os moradores alegaram que havia moradores locais entre os insurgentes.
No dia seguinte, as forças de segurança foram emboscadas perto de Macalange e pelo menos três pessoas foram mortas, incluindo um guarda florestal que ajudava a rastrear os insurgentes. A 14 de Maio, pelo menos quatro soldados foram também feridos e evacuados para o hospital de Mecula, onde um deles acabou por morrer, segundo uma fonte local. O Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque, afirmando que o EIM tinha morto três pessoas, ferido outras e apreendido armas.
Estes incidentes seguem-se aos ataques ao centro educacional de Mariri, no Niassa, a 29 de Abril, e à coutada de caça de safari de Kambako, na província de Cabo Delgado, na Reserva Especial do Niassa, a 19 de Abril. Um grupo de concessões de conservação na reserva especial, incluindo a Mariri e Kambako, chamou atenção, através de um comunicado, que mais de 1.000 postos de trabalho poderiam ser perdidos, os esforços de conservação ameaçados e os apoios comunitários minados, a menos que o governo faça mais para restaurar a segurança na área.
Ataque insurgentes mata 11 soldados
Enquanto isso, no distrito de Muidumbe, em Cabo Delgado, os insurgentes lançaram o ataque mais mortífero do ano contra um posto avançado do exército moçambicano na aldeia de Primeiro de Maio ao longo do dia 8 de Maio, matando 11 soldados, de acordo com o jornal al-Naba do EI. Outras fontes confirmam um ataque na área, tendo uma delas afirmado que pelo menos nove membros da polícia e do exército foram levados para tratamento no Hospital Provincial de Pemba. O EI também partilhou uma fotografia de uma grande pilha de armas alegadamente apreendidas no ataque, que incluía muitas espingardas de assalto, quatro metralhadoras ligeiras, pelo menos sete lança-granadas, morteiros e outros equipamentos, como telefones e painéis solares.
A cerca de 30 km a norte de Primeiro de Maio, também em Muidumbe, insurgentes surgiram nos campos perto da aldeia de Magaia, a 11 de Maio, e raptaram seis raparigas e dois rapazes. Os dois rapazes foram posteriormente confirmados como mortos, uma rapariga conseguiu escapar e as outras cinco continuam desaparecidas, segundo fontes locais.
A sul, no distrito de Macomia, a passagem de insurgentes perto da aldeia de Nguida, a 7 de Maio, a menos de 20 km da vila sede de Macomia, provocou pânico nas comunidades vizinhas. No dia 12 de Maio, os insurgentes apareceram na aldeia de Sitate, no distrito de Meluco. A Al Naba informou que os insurgentes deram uma palestra aos habitantes locais sobre a Sharia.
Navio russo alvejado por insurgentes na costa de Mocímboa da Praia
No dia 10 de Maio, o navio hidrográfico russo Atlantida foi alvo de um ataque insurgente perto da ilha de Tambuzi, no distrito de Mocímboa da Praia. O navio sinalizou socorro, informou o site de notícias MozTimes, mas conseguiu escapar sem danos. O Atlantida havia chegado a Maputo a 17 de Março para uma missão científica com o Instituto Nacional de Oceanografia de Moçambique.
Na vila sede de Palma, foi registada uma atividade de helicópteros mais intensa do que o habitual no dia 16 de Maio, o que gerou alarme na vila. Cabo Ligado não conseguiu identificar a razão deste aumento do tráfego.
Permanecem as tensões entre as autoridades e os residentes de Balama, que forçaram o encerramento da mina de grafite Twigg, propriedade da Syrah Resources, devido a uma disputa de terras. Moradores locais acusaram a polícia de deter e torturar manifestantes na sequência de uma operação realizada a 2 de Maio para reabrir a mina, alegadamente envolvendo veículos blindados, noticiou O País. Protestos têm estado a decorrer no local desde Setembro de 2024, obrigando a empresa a parar a produção e a declarar força major.
Foco: Insurgentes no mar
O ataque ao Atlantida indica a confiança do EIM nas operações costeiras - aquelas em águas litorais - e reflecte a sua crescente presença nas águas costeiras de Cabo Delgado. O incidente sugere disposição e capacidade de ir além da concentração em saques e sequestro de reféns. O incidente também realça a persistente falta de segurança marítima, particularmente nas águas costeiras de Mocimboa da Praia.
A atividade de EIM em águas costeiras ao largo de Cabo Delgado aumentou significativamente em 2024. ACLED regista três eventos marítimos envolvendo EIM em 2023, quando a sua atividade global caiu em toda a província. No entanto, foram registados 23 eventos marítimos em 2024 e 12 até agora em 2025. Dos eventos de 2024, 12 foram registados ao largo de Mocímboa da Praia ou no sul do distrito de Palma. Oito ocorrências registadas até agora em 2025 foram ao largo de Mocímboa da Praia e quatro ao largo de Macomia. De acordo com uma publicação do Zitamar News, o tráfego comercial no pequeno porto de Mocímboa da Praia está a aumentar, com pelo menos três navios a servir Mocímboa da Praia com serviços de cabotagem. Parte desta carga tem como destino as instalações de gás natural liquefeito no distrito de Palma e continua a sua viagem até lá por estrada com escolta militar do Ruanda.
As FADM têm capacidade para patrulhar as águas costeiras de Mocímboa da Praia. Em Abril de 2024, recebeu uma série de barcos de patrulha de alta velocidade da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique, que estava de saída. As forças ruandesas têm uma capacidade semelhante, segundo as fontes. No entanto, a concentração da atividade marítima em Mocímboa da Praia sugere que qualquer patrulhamento atual é ineficaz.
Há informações contraditórias sobre o tipo de embarcação que o EIM utilizou no ataque. As primeiras informações referem que o Atlantida foi atingido por disparos de duas lanchas que o perseguiam. No entanto, fontes de Cabo Ligado na zona nunca mencionaram que o EIM tivesse utilizado embarcações de alta velocidade. O EI nunca divulgou imagens de insurgentes a utilizar este tipo de embarcação, apenas embarcações normais de pesca costeira. Outra fonte informou que as embarcações utilizadas eram um barco de pesca com um motor invulgarmente grande, acompanhado de um pequeno bote inflável. Entretanto, o administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, afirma que os atacantes utilizaram um tipo de barco de pesca doado às comunidades piscatórias pela TotalEnergies e posteriormente roubado pelos insurgentes.
O EIM actua no mar principalmente para se sustentar. A captura de mantimentos e pedido de resgate de barcos e marinheiros capturados dominam as acções do grupo na costa. Em 2024, quase metade da atividade marítima do EIM foi desta natureza. Para 2025, 10 dos 12 eventos registados até agora pela ACLED envolvem saques ou rapto.
O ataque ao Atlantida preocupará os transportadores, bem como os operadores petrolíferos offshore. No entanto, a sua presença numa área evitada pela maioria dos navios levanta questões sobre a sua missão. De acordo com a embaixada russa em Maputo, o navio estava a trabalhar com o Instituto Nacional Oceanográfico de Moçambique para realizar "estudos acústicos e de arrasto para avaliar os recursos biológicos". A Rússia utiliza navios de pesca e oceanográficos para fins de espionagem na Europa. Dada a concentração de interesses europeus no norte de Moçambique, as suspeitas sobre as actividades do Atlantida não podem ser descartadas.
Resumo
Daniel Chapo visita à Tanzânia
O Presidente moçambicano Daniel Chapo efectuou uma visita de Estado de três dias à Tanzânia em 7 de Maio. Os comunicados oficiais sobre a visita de Moçambique e da Tanzânia não mencionaram a cooperação em matéria de segurança, centrando-se antes em questões económicas mais amplas. O principal resultado da visita foi a criação de uma Comissão Económica Conjunta entre os dois países para estimular o comércio e o investimento. Uma prioridade imediata para os dois países é a construção de um posto fronteiriço de paragem única no posto fronteiriço de Negomano-Mtambaswala.
A segurança esteve certamente na ordem do dia para Chapo, dado o destacamento em curso da Força de Defesa Popular da Tanzânia no distrito de Nangade, ao abrigo de um acordo bilateral assinado em Setembro de 2022. Chapo também visitou Zanzibar, onde se encontrou com o Presidente Hussein Mwinyi, e também teve uma reunião não divulgada com o Sheikh Saleh Omar Kabi, o grande mufti de Zanzibar. O recrutamento por grupos armados não estatais da região, incluindo de Moçambique, é um problema antigo em Zanzibar.
Reabertura dos tribunais distritais em cinco distritos de Cabo Delgado
Os tribunais dos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Nangade, Macomia e Meluco, em Cabo Delgado, foram reabertos depois de o Conselho Judicial de Moçambique ter decidido que as condições de segurança tinham melhorado suficientemente. Os tribunais tinham sido deslocados para outras partes da província devido aos ataques dos insurgentes nessas zonas. O Conselho decidiu igualmente que os tribunais dos distritos de Quissanga, Muidumbe, Ibo e Metuge deveriam começar a funcionar.
Polícia reactiva conselhos comunitários de segurança em Mocímboa da Praia
A Polícia da República de Moçambique decidiu reativar os conselhos comunitários de segurança no distrito de Mocímboa da Praia devido ao aumento da atividade insurgente, de acordo com o porta-voz da polícia provincial, Aniceto Magome. Tais conselhos ajudaram a reduzir a atividade criminosa noutros distritos de Cabo Delgado, disse ele.
Comandantes ruandeses e moçambicanos discutem estratégia em Mueda
O comandante das Forças de Segurança do Ruanda em Moçambique, major-general Emmy Ruvusha, encontrou-se com o chefe do Estado-Maior General das FADM, general Julio dos Santos Jane, em Mueda, Cabo Delgado, no dia 9 de Maio, para discutir "novas estratégias" de combate à insurgência, informou a Força de Defesa do Ruanda em comunicado. O General dos Santos Jane elogiou os ruandeses pelo "trabalho que está a ser feito para restaurar a paz e a estabilidade na parte norte de Moçambique".
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