Cabo Ligado Semanal: 5-11 de Junho de 2023

Em Números: Cabo Delgado, Outubro de 2017-Junho de 2023

Dados actualizados a partir de 9 de Junho de 2023. A violência política organizada inclui Batalhas, Explosões/Violência Remota, e Violência contra os tipos de eventos civis. A violência organizada contra civis inclui Explosões/Violência Remota, e Violência contra tipos de eventos civis onde os civis são alvo. As fatalidades para as duas categorias sobrepõem-se assim para certos eventos.

  • Número total de ocorrências de violência: 1,647

  • Número total de fatalidades reportadas de violência: 4,693

  • Número total de fatalidades reportadas por violência contra civis: 2,008

    Acesse os dados.

Resumo da Situação

Enquanto os insurgentes continuam a intimidar as comunidades nos distritos de Macomia e Muidumbe, o único homicídio de civis confirmada na semana passada foi cometido pelas forças de segurança: um professor chamado Arlindo Camisa, que foi morto no bairro Pamunda, em Mocímboa da Praia, a 9 de Junho. A Carta de Moçambique noticiou que ele foi atropelado por uma viatura militar, mas uma fonte disse ao Cabo Ligado que ele foi alvejado pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da polícia na sequência de uma discussão em que outras duas pessoas também foram mortas.

No distrito de Ancuabe, as tensões entre a UIR e a milícia Naparama vieram à tona quando os membros da UIR se recusaram a cumprir o recolher obrigatório das 23h00, imposto pelos Naparama aos estabelecimentos comerciais, argumentando que não têm autoridade para impor ordens às forças de segurança. Esta questão foi levantada numa reunião entre os Naparama, a UIR e as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, na aldeia de Salaue, a 12 de Junho, para avaliar a conduta da UIR na área. Alegações de brutalidade da UIR contra civis inocentes também foram abordadas, e representantes da polícia prometeram investigar todos os casos de infracção, afirmou uma fonte local.

Enquanto isso, a atividade violenta dos insurgentes continua em torno da bacia do rio Messalo. Insurgentes armados apareceram perto de um pequeno lago perto de Miangalewa a 5 de Junho, disparando suas armas e assustando alguns pescadores. Os insurgentes roubaram então o seu pescado e outros pertences.

No mesmo dia, a cerca de 20 quilómetros a sudeste, em Chitoio, distrito de Macomia, foram descobertas sepulturas com os corpos de três desaparecidos, entre os quais uma criança de sete anos, noticiou a Lusa. As vítimas faziam parte de um grupo de Chitoio que desapareceu no início de Maio.

Ao longo da costa de Macomia, perto da aldeia de Ilala, um mini-bus foi parado e revistado por insurgentes à procura de forças de segurança também no dia 5 de Junho, segundo a Carta. Segundo informações, havia dois soldados a bordo, mas eles não foram identificados porque o motorista havia escondido suas armas. O mini-bus acabou sendo autorizado a continuar e ninguém ficou ferido. Entretanto, em contrapartida, as forças de segurança reduziram as escoltas na estrada N380 entre a sede distrital de Macomia e Mucojo na semana passada, disse uma fonte ao Cabo Ligado.

Insurgentes também foram avistados em torno da aldeia costeira de Pequeue, em Macomia, no dia 7 de Junho. Uma fonte afirmou que um insurgente morreu de causas desconhecidas perto da aldeia naquele dia, e seus companheiros pediram emprestado um caixão, uma maca para carregar o falecido até a sepultura, a uma mesquita local, que mais tarde devolveram.

Uma equipa do Serviço Nacional de Investigação Criminal encontra-se desde 6 de Junho na sede distrital de Macomia, segundo fonte local. Seu objetivo é investigar a suposta colaboração entre as famílias deslocadas que retornam às suas aldeias e os insurgentes, mas uma fonte relata preocupação generalizada de que civis inocentes possam ser alvos. Já foi relatado que as famílias deslocadas que regressaram a Macomia voltaram a deixar as suas casas por medo de serem acusadas de colaborar com os insurgentes.

Foco Semanal: Governador Congratula-se com o Regresso em Curso

O Governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, fez uma visita aos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia e Muidumbe para destacar o regresso em curso dos deslocados às suas zonas de origem. Em declarações à Zumbo FM de Pemba, afirmou que os números oficiais de regresso de mais de 400.000 foram provavelmente ultrapassados. A sua visita enviou uma forte mensagem a uma audiência nacional e internacional de que a estabilidade está a ser mantida. A sua visita pode ter sido programada para contribuir com o processo de tomada de decisão sobre o reinício do projeto de gás natural liquefeito da TotalEnergies.

A fonte dos números do governador é a última avaliação de deslocamento e regresso da Organização Internacional para Migração. A avaliação, realizada em Março de 2023 por meio de informantes-chave e entrevistas em grupo, indica um aumento de 19% no número total de regressados. A avaliação de Março indicou 420.200 regressados, em comparação com 352.437 em Novembro de 2022. Isso foi acompanhado por uma queda no número registrado de deslocados internos, que caiu de 1.028.743 para 834.304 de Novembro de 2022 a março deste ano. Além do relatório, um conjunto de dados públicos será disponibilizado em breve.

Os regressados concentram-se em Palma e Mocímboa da Praia, que em conjunto representam aproximadamente 50% dos regressados na avaliação de Março. Esse forte retorno a esses dois distritos estratégicos é resultado da melhoria da segurança e dos incentivos existentes nesses distritos, mas também das dificuldades enfrentadas pelos deslocados internos quando estão longe de casa. O governador Tauabo levantou esses três aspectos durante sua visita. Conforme noticiado pela Zumbo FM, referiu a disponibilização de ajuda alimentar, materiais para abrigo e insumos agrícolas, para os regressados, entre outros apoios. No entanto, conforme observado pelo Observatório do Meio Rural em Novembro de 2022, as más condições de vida enfrentadas pelos deslocados internos são tão impulsionadoras do retorno quanto os limitados incentivos disponíveis. Relatos recebidos por Cabo Delgado esta semana sugerem que a ajuda tanto para regressados quanto para deslocados internos continua inadequada. De acordo com uma fonte em Nangade, a ajuda alimentar continua insuficiente no centro para deslocados na sede distrital, enquanto os esforços para apoiar os deslocados internos a cultivar sua própria comida ainda não tiveram resultados positivos. Também para os regressados, receber a ajuda que chega pode ser problemático. Outra fonte em Mocímboa da Praia deu conta de uma confusão numa distribuição de alimentos na vila sede na semana passada que só foi resolvida com a intervenção das tropas ruandesas.

Os desafios foram aflorados pelo próprio governador Tauabo em Mbau, no distrito de Mocímboa da Praia, onde reconheceu os estragos causados nas infraestruturas básicas e o desafio que se coloca aos regressados. Ao mesmo tempo, a sua presença em Mbau, há muito um reduto da insurgência, indica confiança, ou pelo menos esperança, de que a segurança possa ser mantida.

 No entanto, talvez o dado mais marcante no relatório seja até que ponto o fardo do deslocamento é suportado pelas próprias comunidades em toda a província, embora seja mais notável nos distritos de Pemba, Metuge e Mueda. No geral, a avaliação registrou que 65% dos deslocados internos são acolhidos por comunidades e apenas 35% são alojados em centros de deslocamento.

Resumo Semanal

Mais de 1.300 mortos em ataque de Palma em 2021, revela estudo

Segundo uma investigação conduzida pelo jornalista britânico Alex Perry 1.357 pessoas foram mortas ou desapareceram após o ataque a Palma, em Março de 2021 por insurgentes afiliados ao Estado Islâmico. Uma equipa composta por seis inquiridores e três supervisores passou cinco meses a visitar mais de 13.600 casas em Palma e nas aldeias vizinhas a recolher dados sobre quem tinha sido morto e a forma como morreram. O Bispo de Pemba, António Juliasse, pediu ao governo para declarar um dia de luto nacional em resposta à afirmação de Perry.

Egipto promete fornecer treinamento às forças especiais em Moçambique

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, chegaram a um acordo sobre cooperação em matéria de segurança, com o Egipto a prometer treinar forças especiais moçambicanas na luta contra o terrorismo, de acordo com um comunicado da AIM. O Egito tem uma experiência militar considerável e tem vindo a combater a sua própria insurgência afiliada ao Estado Islâmico na península do Sinai desde 2014. A cooperação militar egípcia com a FRELIMO remonta à guerra de libertação de Moçambique. Al-Sisi também disse que o Egito estaria disposto a fornecer educação religiosa em Moçambique para conter a propagação da pregação extremista. Nyusi visitou recentemente uma série de países do Oriente Médio, incluindo Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, aparentemente numa tentativa de cortejar países muçulmanos onde redes extremistas são conhecidas.

Reconstrução de Cabo Delgado “satisfatória”, diz governador provincial

O governador Valige Tauabo informou que a província se encontra num estágio “satisfatório” de reconstrução nos distritos afetados pela insurgência. Em entrevista à Zumbo FM, Tauabo mencionou os esforços em curso para reconstruir e reabilitar as infraestruturas económicas e sociais, incluindo a reabilitação de edifícios, instalação de sistemas de abastecimento de água e reabilitação de estradas. Estão também em curso projectos de reabilitação de infraestruturas nos distritos de Palma, Macomia e Quissanga, como a reabilitação da pista de aterragem local e  de sistemas de energia solar.

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